Em Minas Gerais, 3% dos domicílios do estado estão localizadas em favelas – isso corresponde a mais de 231 mil domicílios na capital e em cidades do interior. Em Belo Horizonte, mais de 12% das moradias estão nessas localidades, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante da representatividade das comunidades na geração de emprego e renda para economia mineira, o Sebrae Minas, em parceria com o Data Favela/Instituto Locomotiva, realizou a pesquisa “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais”, que mostrou o perfil dos empreendedores e negócios das comunidades mineiras.
“É importante lembrar que o estado conta com quase 2 milhões de empreendedores, que movimentam mais de R$ 84 bilhões por ano. Somente os empreendedores de menor renda injetam mais de R$ 30 bilhões anualmente na economia do estado”, afirma o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva.
O estudo foi feito entre setembro e novembro de 2022, com 1.004 empreendedores de comunidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Aglomerado da Serra, Alto Vera Cruz, Conjunto Taquaril, Morro Alto e Nova Contagem), Araçuaí (Calhauzinho), Montes Claros (Bairro Cidade Conferência Cristo Rei), Araguari (Bela Suíça – I, II e II, Independência, São Sebastião, Monte Moria e Vieno) e Congonhas (Residencial Gualter Monteiro).
Segundo a pesquisa, entre os empreendedores das favelas de Minas Gerais, 87% são de baixa renda (classes CDE), 73% são negros e 58% cursaram até o ensino fundamental. Para esses empreendedores, seus negócios são essenciais para compor a renda domiciliar – para 90% deles, o faturamento representa pelo menos metade da renda da casa.
O estudo também aponta que metade dos empreendedores (50%) das comunidades mineiras começou a empreender por necessidade, e 45% abriram o negócio por enxergar uma oportunidade no mercado. “Diante da situação econômica do país agravada pela pandemia, muitos trabalhadores ficaram desempregados ou tiveram dificuldades de recolocação no mercado, impactando diretamente na redução da renda familiar. Foi justamente no empreendedorismo, mesmo que sem muito planejamento, que homens e mulheres encontraram uma alternativa de ocupação e renda. Uma realidade vivenciada tanto por empreendedores da capital como também do interior do estado”, explica o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas.
Apesar da importância do negócio para a renda em casa, 69% dos empreendedores das comunidades mineiras são informais. Entre os 31% dos formalizados, a maioria (79%) são microempreendedores individuais (MEI). “Vimos uma proporção de formalização maior do que a média entre os empreendedores mais escolarizados, com maior renda e não negros, que têm faturamento mensal acima de R$ 2 mil e que moram na capital mineira ou na Região Metropolitana. Ou seja, quanto mais socialmente vulnerável o empreendedor, menor tende a ser sua taxa de formalização”, destaca Silva.
A pesquisa do Sebrae Minas também traz um levantamento sobre as características dos negócios das comunidades mineiras. Conforme os dados, 43% dos empreendimentos estão no mercado há mais de 5 anos. O setor de serviços é o mais representativo nas favelas do estado com 37% dos negócios atuando nesse mercado, seguido pelo comércio (31%), principalmente, de venda de produtos feitos por terceiros, e a produção e comercialização de bens artesanais (23%). Entre as principais áreas de atuação estão: alimentação e bebidas (24%), beleza e estética (14%) e vestuário e acessórios (10%).
Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela, “muitas dessas pessoas começaram a empreender porque viram uma oportunidade, como confeiteiras que já faziam bolos para família e começaram a fazer para fora, mas também por necessidade, porque enxergaram ali uma oportunidade em complementar a renda de casa. É importante destacar que a maioria ainda não se enxerga como empreendedor, imaginam que o termo se refere somente a negócios mais estruturados, com maior faturamento e clientela”, explica Meirelles.
Grande parte dos empreendedores (89%) atuam sozinhos – apenas 11% têm funcionários no negócio. Desses, 93% têm apenas um funcionário, 88% empregam pessoas da própria comunidade e 46% contratam apenas informalmente.
Praticamente todos (91%) dos entrevistados têm empreendimentos na própria comunidade onde residem, sendo 41% funcionando em um ponto comercial, 26% na própria residência e 18% na rua.
Para 46% dos entrevistados, ser o próprio chefe é a principal vantagem para empreender. Entre as vantagens mais citadas também estão a flexibilidade de horário (35%) e poder estabelecer metas financeiras e trabalhar para alcançá-las. Porém, não ter um salário fixo (44%), nem ter acesso aos benefícios como vale refeição/alimentação, transporte e plano de saúde (33%) são pontos desfavoráveis em relação a ter a carteira assinada.
“Mesmo reconhecendo as dificuldades e limitações de empreender, a maioria dos entrevistados deseja continuar trabalhando de maneira autônoma, pois muitas vezes têm benefícios e possibilidades de ascensão que o trabalho como CLT não lhes proporciona. Além disso, ao empreender há a liberdade de trabalhar com o que gosta e sabe fazer”, afirma Marcelo de Souza e Silva.
Incentivo ao empreendedorismo
A pesquisa “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais” faz parte das ações do programa “Comunidade Empreendedora”, uma iniciativa do Sebrae Minas para impulsionar a competitividade dos pequenos negócios das favelas mineiras, ampliando o desenvolvimento local por meio da geração de emprego e renda. “Nosso objetivo é melhorar a gestão desses empreendimentos, estimulando a cooperação, criatividade e protagonismo dos empreendedores locais, oferecendo qualidade de vida aos moradores das comunidades e gerando novas oportunidades de negócios”, justifica o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas.
O próximo passo do programa será a realização de um diagnóstico sobre a maturidade dos empreendimentos das comunidades para a criação de um plano de ação, que inclui capacitações individuais e coletivas sobre gestão empresarial.
Inicialmente o projeto vai ser implementado nas comunidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte e deverá se estender para outras favelas do interior do estado.
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