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MAX 2025: “A comunidade que trabalha com conteúdo infantil segue apaixonada pelo que faz, isso mantém o setor vivo”, diz

Referência na produção infantil no país, a executiva da TV Cultura fala sobre os desafios e caminhos para o segmento no Brasil
Por Aline Reis
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A formação das novas gerações por meio do audiovisual e a urgência de fortalecer políticas e modelos de produção para o público infantil foram as principais análises levantadas pela executiva da TV Cultura, referência nacional na criação e curadoria de conteúdos para crianças, Beth Carmona. Ela participou do painel “Os desafios do conteúdo infantil”, realizado na 10ª edição da MAX – Minas Gerais Audiovisual Expo, que ocorreu de 11 a 13 de novembro, em Belo Horizonte.

Com cerca de 30 anos de atuação no setor, Carmona fez uma grande reflexão sobre a produção infantil no país, abordando desde o surgimento do segmento na TV aberta até os impactos das novas plataformas e da fragmentação das audiências. Ela relembra o papel pioneiro da TV Cultura na construção de uma programação infantil consistente, em um período em que as emissoras comerciais “acreditavam que as crianças só existiam de manhã”. Sem TV por assinatura e com poucas referências, a emissora se tornou um espaço essencial para este público.

A chegada dos canais pagos, nos anos 1990, levou à segmentação por faixas etárias — e também a uma legislação favorável, que impulsionou a produção nacional, principalmente, de animação. “Foram momentos muito bons para as produtoras brasileiras se estabelecerem. O público ganhou muito com isso. Hoje, o consumo infantil se espalhou por celulares, plataformas digitais, redes sociais e canais de streaming, tornando mais difícil captar e medir essa audiência. As crianças estão em todas as telas. A audiência está dispersa e já não se mede mais como antes. O jeito de ver televisão mudou e continua mudando”, ressalta.

Retorno à TV Cultura e os novos rumos da programação

De volta à TV Cultura após experiências fora do país e em outros canais, Carmona encontrou uma emissora que, apesar de abalada pela crise do setor, ainda mantém forte presença na programação infantil, sendo grande parte composta por animações brasileiras e estrangeiras.

Segundo ela, o momento é de pensar em produções mais autênticas, que dialoguem com as crianças de hoje e se abram a novas narrativas. A chegada da TV 3.0 amplia possibilidades de interatividade e inovação. “Podemos complementar um conteúdo com livros, jogos, informações adicionais. Isso exige novos profissionais e outra forma de pensar a narrativa”, explica.

Responsável por clássicos como “Castelo Rá-Tim-Bum” e “Mundo da Lua”, Carmona destaca que, apesar de ser natural revisitar produções de sucesso, o setor não deve ter o passado como referência. “A nostalgia é bacana, mas tem limite. A infância de hoje é outra. Temos que ir para frente. É preciso sintonizar com a criança de agora”, frisa. Ela citou a atualização de marcas como “Turma da Mônica” e o sucesso contemporâneo de animações como “Irmão do Jorel”.

Educação midiática e responsabilidade das empresas

A participação da linguagem audiovisual no modelo de alfabetização atual também foi citado por Carmona, que defende o fato de o setor privado ter de assumir responsabilidade social ao investir em conteúdo infantil. “A empresa privada não pode apenas vender produtos dentro de uma série. Se usufrui de uma lei de incentivo, tem que fazer a sua parte: financiar boas histórias e distribuí-las para o Brasil inteiro”, diz. Ela defende que a construção de uma sociedade melhor passa também por conteúdos de qualidade voltados à infância.

O atual cenário de fomento, segundo a executiva, ainda é considerado instável, com editais irregulares, emissoras em crise e concorrência internacional acirrada. Carmona afirma que o mercado vive “um momento de vacas magras”. Mesmo assim, há motivos para otimismo. “Tem muitos bons projetos no mercado. As leis recentes permitiram a criação de novas ideias, de novos diretores, de experimentações”, destaca. Ela ressalta que o Festival comKids, em sua edição mais recente, recebeu 450 inscrições de produções infantis feitas nos últimos dois anos, número recorde.

Ainda durante a MAX 2025, Carmona deixou uma mensagem para criadores, gestores e formuladores de políticas, de que é preciso seguir investindo, inovando e pressionando por políticas públicas consistentes. “A comunidade que trabalha com conteúdo infantil continua apaixonada pelo que faz. E é essa paixão que mantém o setor vivo e produzindo”, finaliza.

Assessoria de Imprensa – Sebrae Minas | Regional Centro
Aline Reis (Stark)
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