O Vale do Jequitinhonha guarda uma das mais belas expressões da cultura brasileira: o artesanato em barro. Mãos majoritariamente femininas transformam argila em arte, preservando saberes ancestrais e construindo novas oportunidades para suas comunidades. Esse ofício, que atravessa gerações, sustenta famílias, preserva memórias e revela a potência criativa da região.
O barro, moldado com delicadeza e força, conta ricas histórias. Cada peça reflete a alma da comunidade. Essa tradição ganhou um novo capítulo com o lançamento da coleção Chão de Origem, lançada em Minas Novas, no final de agosto. A coleção nasceu de um mergulho nas memórias das comunidades artesãs de Coqueiro Campo, Campo Alegre, Cachoeira do Fanado e Santana do Araçuaí. Durante dois anos e meio, foi feito o resgate de formas, cores e peças que, por décadas, deixaram de ser produzidas.

O arquiteto e curador da coleção, Alexandre Rousset, explica que a coleção carrega a memória viva de quem transformou o barro em identidade e devolveu às comunidades a lembrança das formas e das pinturas que marcaram a vida de suas avós e bisavós. “Vivemos imersões profundas no Vale para refletir com as artesãs sobre suas raízes. Mais do que moldar peças, revelamos a essência de um território e a força de mulheres que transformam a terra em arte. Cada peça da coleção carrega séculos de saberes e histórias”, explica.
Artesã há 45 anos, filha e neta de artesãs, Anísia Lima de Souza já transmitiu o ofício para suas filhas e até para a neta de oito anos. Moradora de Campo Alegre e integrante da associação local, ela participou ativamente do desenvolvimento da nova coleção. “As peças são muito especiais, porque resgatamos o que nossas mães e avós faziam e que estavam esquecidas. No início, achamos o processo desafiador, mas logo percebemos que era um resgate cultural. É como voltar às origens e contar a nossa história em cada detalhe, mantendo viva uma tradição”, conta.

Alice Costa é artesã há mais de 20 anos em Minas Novas. Hoje, ela é presidente da Associação de Cachoeira do Fanado, que conta com 20 associadas. “O artesanato é muito importante para nós porque, para algumas, é a única fonte de renda. Para esta coleção, resgatamos as casas da região, a comunidade onde a gente vive, as peças utilitárias que as nossas mães e avós faziam. É uma memória linda dos nossos antepassados”, reflete.
De ofício à negócio próspero
O Sebrae Minas é um grande apoiador do artesanato do Vale do Jequitinhonha, presente na região há mais de duas décadas. A instituição atua para o fortalecimento da governança, empreendedorismo, presença digital, melhorias na gestão dos negócios, design dos produtos e acesso a mercados. Dessa forma, abre caminhos para que o artesanato alcance mercados ainda mais qualificados, como galerias, lojas de arte e artesanato, além de profissionais como arquitetos e designers.
Desde 2019, a entidade trabalha com o projeto Identidade e Origem na região, com o objetivo de dar notoriedade ao território, gerando reconhecimento e valorização pelo mercado. E, em 2021, nasceu a marca coletiva Vale do Jequitinhonha para destacar a origem dos produtos, proteger os artesãos de cópias e incentivar o artesanato como fonte de renda.

E para desenvolver a coleção Chão de Origem, as artesãs receberam consultorias na área de design, focadas no resgate das peças tradicionais das comunidades e no reforço das características autênticas do artesanato da região, além de iniciativas voltadas à preservação de manifestações culturais, como danças e cantos típicos.
O gerente do Sebrae Minas na Regional Jequitinhonha e Mucuri, Rogério Fernandes, destaca que o trabalho da instituição no Vale do Jequitinhonha foca no fortalecimento e no desenvolvimento de aspectos técnicos e culturais. “O nosso papel é de apoio. Nós mapeamos os desafios, apoiamos as lideranças e preservamos a essência desse ofício artesanal. As grandes protagonistas são elas, pois são empreendedoras que transformam a realidade de suas comunidades. Ser artesã hoje no Vale é motivo de orgulho e felicidade e a razão pela qual elas continuam fazendo brilhantemente essa arte”, ressalta.
Esse fortalecimento é visível nas histórias individuais. A artesã Thaís Lopes de Souza, de 31 anos, da comunidade Campo Buriti, conta que foi no barro que reconstruiu sua vida. “Aprendi com minha mãe e hoje sustento meu filho com esse trabalho. Cada peça é também uma terapia, uma forma de meditar sobre a vida. Foi com a renda do artesanato que consegui terminar minha casa”, diz. De todo o processo de criação de uma peça, ela prefere a pintura. “Eu amo pintar. Eu coloco o meu sentimento em cada peça. É algo que não consigo nem expressar em palavras. Começo a pintar e me sinto muito bem”, reflete.

Viagem para a Origem: quando o comprador encontra a história
Nos últimos anos, estima-se que somente as ações promovidas pelo Sebrae Minas tenham contribuído para a movimentação de, aproximadamente, R$ 2,5 milhões em vendas, impulsionando a economia local e ampliando as oportunidades para as famílias envolvidas.
Uma das estratégias do Sebrae Minas é a Viagem para a Origem, que leva lojistas e curadores para dentro das comunidades, conectando-os diretamente com as artesãs. Ali, eles conhecem os quintais onde os fornos são acesos, conversam com as artesãs e vivenciam de perto a força da tradição. É mais do que uma negociação, é uma experiência única de conexão com as histórias por trás de cada peça.
“A experiência de compra na origem é extremamente valiosa para o lojista de artesanato. Ela proporciona um contato direto e profundo com quem produz as peças, permitindo conhecer de perto como o artesanato é produzido, o ambiente em que o artesão trabalha e a cultura que movimenta a região. O impacto vai muito além do aspecto econômico, trata-se de reconhecimento e valorização da arte, dos artesãos e do território. Ao comprar diretamente na origem, o lojista estabelece uma conexão mais próxima com os artesãos, fortalecendo vínculos que se refletem não apenas nas vendas, mas também nas histórias que cada produto leva até suas lojas”, comenta a analista do Sebrae Minas Amanda Guimarães.
E os compradores confirmam. “É a terceira vez que venho ao Vale, e cada visita me emociona. São peças que contam histórias, feitas por mulheres talentosas. Levo para minha loja mais do que objetos, levo cultura e histórias de vida”, diz Maria do Carmo Soares Cavalcante, de Maceió.
Já Rodrigo Marchioro Voltolini, de Florianópolis, conheceu de perto, pela primeira vez, a história por trás de cada peça. “O artesanato do Vale hoje é sinônimo de luxo. Os vasos, as flores, as cumbucas são perfeitos, com acabamento impecável. E o mais bonito é ver crianças aprendendo com suas mães e avós. Esse artesanato só vai crescer”, completa.
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