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“Um líder precisa estar em contato com sua comunidade”

Economista Eduardo Giannetti traça um perfil dos líderes ideais na gestão pública em sua palestra no Delta Forum 2023
Por Roger Dias
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A importância dos líderes em um contexto de organização ou poder público se torna um dos maiores desafios para criar o ambiente propício e para que as boas ideias sejam colocadas em prática. A característica de liderança é desenvolvida desde a infância e precisa ser aprimorada diariamente, de acordo com o economista e filósofo Eduardo Giannetti, de 66 anos, mineiro de Caeté e membro da Academia Brasileira de Letras. Com Doutorado em Economia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, ele fez um panorama sobre o papel do líder na palestra “Do sonho à realidade: a construção do legado”, realizada nesta quarta-feira (22/11), durante o Delta Forum 2023, no Sebrae Minas. Giannetti conversou com a Agência Sebrae de Notícias sobre os desafios dos cargos de liderança e analisou o atual cenário para a melhoria do ambiente dos pequenos negócios.

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Como desenvolver o papel de liderança?

O líder precisa participar da vida pública, dos assuntos da comunidade e ter uma postura construtiva e proativa de identificar problemas, propor soluções e mobilizar recursos humanos e organizacionais. O efeito da liderança é muito importante, porque ele se espalha, motiva e inspira muita gente. Buscar sempre essa liderança é muito importante. E esperamos que um líder atenda às expectativas daqueles que dependem das suas atividades. Não basta só isso. É importante participar da comunidade, pensar em meio ambiente. Essa dimensão de que as coisas não estão prontas, pois sempre há novas possibilidades de nova contribuição que pode ser feita.

Quais os desafios dos cargos da liderança diante de problemas, como dívidas, faltas de investimentos e burocracia na administração pública?

A primeira questão é jamais se abater. Onde há problemas, há soluções. Muitas vezes, as soluções surgem dos problemas. O líder não pode se entregar ou deixar circunstâncias adversas tolham sua capacidade de ação. É muito interessante uma situação que ocorre na vida em que as adversidades mobilizam a vontade de mudança. Quando está tudo resolvido, em que não há nada que demande grande energia, não vai suscitar também a ousadia para uma solução.

Amanda Ketly

No âmbito municipal, o que os gestores podem fazer para estimular e gerar o interesse da sociedade para participar ativamente das ações?

É importante estar em contato com a comunidade para a percepção dos temas relevantes que motivam as pessoas, além das prioridades, o que faz falta e o que pode mudar. É uma informação preciosa. Para isso, é preciso estar no dia a dia ouvindo e enfrentando os problemas que as pessoas enfrentam.

Qual é o melhor legado que os líderes podem deixar para as próximas gerações?

A pessoa precisa ter clareza sobre o legado que ela gostaria de deixar. Nossa vida é finita, mas é uma aspiração do ser humano projetar seus valores e características para as gerações futuras. O legado pode ser material e imaterial. No caso de uma liderança pública, o legado diz respeito à infraestrutura e à qualidade dos serviços prestados e o cuidado com o meio ambiente. Quanto ao legado imaterial, falamos de valores. É trazer uma centralidade para as questões que mudam a vida das pessoas, como saúde e educação.

Qual é a importância da educação empreendedora nesse processo?

A educação empreendedora começa com algo fundamental, que é o ensino fundamental. Sem uma boa base, tudo fica precário. Falo das habilidades que são adquiridas nessa época. Logo, ela está preparada para a vida, para identificar um problema, ver algo que precisa ser feito e encontrar um espaço que ela pode ocupar de forma legítima. As lideranças têm um componente inato, um pulso de tomar a frente, mas tem um componente que é resultado de aprimoramento e formação. Esses dois componentes são integrados. Temos grandes vocações de lideranças no Brasil que não tiveram a possibilidade de ter uma formação de ensino fundamental que dê a capacidade de viver esse conceito em plenitude.

Amanda Ketly

Falando em ambiente de negócios, quais as dificuldades para as micro e pequenas empresas diante da burocratização das leis?

Desde sua origem, o Brasil tem problemas de excesso de regulação inoperante. É a combinação do pior de dois mundos. Você tem um excesso de normas, mas tem uma ausência de normatividade. O sinal mais claro disso é a existência de 40 milhões de brasileiros na informalidade. Um país que tem regras, leis e legislação para tudo e não consegue oferecer uma situação regular de emprego. O ambiente de negócios, infelizmente, é o que mais tolhe o brasileiro. Se o Bill Gates tivesse fundado a Microsoft numa garagem no Rio de Janeiro, ele jamais teria saído de lá. Pior, venderia software pirata. Nosso ambiente não permite que um jovem saia da universidade e comece um negócio em um fundo de garagem. Seria melhor que tivéssemos menos leis, mas que elas fossem efetivas.

As regras de tributação no Brasil ainda são um entrave para o desenvolvimento dos pequenos negócios?

Estamos caminhando positivamente. A proposta da Reforma Tributária apresentada pelo governo realmente simplifica e dá transparência em um labirinto que hoje está cheio de litígios e vai dar previsibilidade ao marco que regula o sistema tributário. A liberdade econômica é válida, o Brasil precisa dela, mas tem de vir acompanhada da formação de capital humano. Ela só floresce quando os cidadãos estão capacitados para seu ofício. Precisamos estar um país em que as pessoas sejam livres para empreender, tenham um ambiente de negócios e que o cidadão esteja capacitado para exercer os seus direitos e suas liberdade. Milhões de crianças e jovens não recebem educação para o exercício dessa liberdade.

As parcerias público-privadas são um caminho para a melhoria do ambiente de negócios?

Sempre. O setor público não tem recursos organizacionais e administrativos e precisa aprender a trabalhar em sintonia com o setor privado. Por sua vez, o setor privado não tem a dimensão de enfrentar os problemas brasileiros, pois cada um atua em seu âmbito. Hoje temos quase a metade dos domicílios brasileiros sem coleta de esgoto, por exemplo. O setor público não tem como fazer investimento e está procrastinando a solução há séculos. Vai ter de mobilizar recursos do setor privado com regulação do setor público.

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