A cidade de Salinas, no Norte de Minas Gerais, conhecida como a “capital mundial da cachaça”, está recebendo um novo impulso. O município, que possui o maior número de cachaçarias registradas no Brasil e o segundo a obter a chancela de Indicação Geográfica (IG), na modalidade de Indicação de Procedência (IP) no país, tem uma nova estratégia de reposicionamento de mercado. Apoiada pelo Sebrae Minas, essa estratégia pretende agregar valor à marca e criar diferenciais competitivos por meio da valorização da origem, da qualidade e da história por trás da cachaça da Região de Salinas.
Há 16 anos, o Sebrae Minas iniciou o apoio aos produtores da região com o projeto ‘Comercialização da Cachaça de Alambique’. Um ano depois, a instituição também foi um dos parceiros que ajudaram a ampliar a promoção da cachaça da região, por meio da conquista da Indicação Geográfica (IG), concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em 2012. No Brasil, apenas outras três cidades alcançaram tal status para a cachaça: Paraty (RJ), Abaíra (BA) e Morretes (PR).
Em 2015, foi criada a marca coletiva, uma estratégia que expressa e comunica o propósito, valores, identidade, origem e as tradições da região, gerando valor para o território e para o trabalho dos produtores.
Já no ano passado, o Sebrae Minas, em parceria com a Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (APACS) – que representa 57 marcas de 27 fabricantes de cachaça, com produção de cerca de 3 milhões de litros por ano – desenvolveu uma nova estratégia para resguardar a procedência da cachaça e valorizar a IG da Região de Salinas, delimitada pelos municípios de Salinas, Novorizonte, Taiobeiras, Rubelita, Santa Cruz de Salinas e Fruta de Leite.
“Salinas é a principal referência na produção de cachaça artesanal em Minas. É a maior produtora do estado em quantidade e a segunda em número de marcas vendidas. Queremos intensificar a fama e a notoriedade conquistadas dentro e fora do Brasil para promover a origem produtora e características marcantes que tornaram o produto único. Além disso, iremos implementar medidas de controle e combate às falsificações para que o consumidor saiba identificar a verdadeira cachaça da Região de Salinas”, afirma o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva.
Entre as ações realizadas está o ALI Indicação Geográfica (IG), uma iniciativa que orienta as governanças locais a encontrar soluções inovadoras para questões práticas da gestão do território. O objetivo é melhorar os processos de gestão das indicações geográficas, considerando sua regulamentação, controle, proteção e promoção.
Na ocasião, foi feito um levantamento que identificou os principais desafios e gargalos da IG. Com base nesses apontamentos e prioridades, foi criado um plano de ação em conjunto com produtores, Sebrae Minas e a APACS, responsável pela gestão da IG.
“Tínhamos dificuldade em relação ao controle da procedência e do uso do selo. Não conseguíamos rastrear de onde a cachaça realmente vinha, se era da Região de Salinas ou não. Com o apoio do Sebrae Minas, conseguimos um norte que facilitou nosso trabalho. Começamos a refazer desde a parte legal, alinhando o uso da marca da Região de Salinas registrada no INPI, reformulamos processos e colocamos as normativas em dia”, conta o presidente da APACS, Jean Henrique de Oliveira.
Uma das medidas consistia em eliminar distorções do uso da marca coletiva e da Indicação Geográfica. Para isso, será criado um selo de procedência que será adesivado à garrafa. O selo irá conter: a marca original da Região de Salinas cadastrada no INPI, a identificação da Indicação Geográfica (IG), um QR Code e um código numérico, que identifica o produtor e o lote da bebida.
Dentro dos padrões
Para dar ainda mais segurança ao processo de padronização das cachaças produzidas na região, o Sebrae Minas firmou parceria com o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). O acordo prevê a realização de análises físico-químicas e sensoriais das bebidas para classificar aquelas que seguem os padrões especificados na Indicação Geográfica (IG). Esses padrões incluem estar dentro do território delimitado pela chancela e possuir as características típicas da cachaça produzida na região.
“O clima, o solo e o sol, tudo contribui para que a Região de Salinas tenha um terroir único. Mas não basta apenas ser da região. Os produtores devem adotar boas práticas de produção. As propriedades não podem acelerar o processo produtivo por qualquer meio artificial, devem utilizar o alambique de cobre e a cana plantada na área demarcada pela Indicação Geográfica. Além disso, só podem usar na fabricação o fermento caipira, à base de milho. Com a análise do Instituto, vamos garantir que todas as bebidas que receberem o selo de procedência mantenham o mesmo padrão, assegurando a origem, qualidade e a legitimidade da cachaça produzida na região”, conta Jean Oliveira.
Somente os produtores de cachaça que cumprirem as normas estabelecidas pela APACS, e passarem por visitas de verificação para comprovar que seguem as especificações exigidas, receberão o selo. “A cachaça possui a maior carga tributária do país, que chega a quase 82% em tributos, o que dificulta a competitividade, principalmente, das pequenas empresas do segmento. Além disso, há um grande mercado informal com preços desleais em relação ao custo de produção de quem trabalha legalmente. Por isso, é necessário criar mecanismos de controle, como o selo de procedência, que assegurem ao consumidor que o produto possui legitimidade e qualidade. Isso valoriza a cultura e a tradição local, impulsiona o desenvolvimento econômico do território e fortalece a reputação da marca Região de Salinas”, destaca Marcelo Silva.
Conhecimento
Além da valorização da procedência, o Sebrae Minas tem oferecido suporte gerencial aos produtores da região, por meio de consultorias, palestras e seminários para melhorar a gestão dos negócios. A instituição incentiva ainda o consumo da bebida no próprio território, capacitando restaurantes e bares da cidade na preparação de drinks a base de cachaça e frutas da região.
Os produtores da bebida também já participaram de missões empresariais, entre elas, visita a Paraty, no Rio de Janeiro. A cidade foi a primeira no Brasil que teve a cachaça reconhecida com o título de Indicação Geográfica (IG), em 2007. Durante a missão, os participantes puderam conhecer de perto boas práticas e inovações no processo de produção e trocar experiências e estratégias sobre a promoção da cachaça associada ao turismo e ao comércio local.
Festival
Outra ação do Sebrae Minas é apoiar a participação dos produtores de cachaças de alambique da Região de Salinas em feiras e eventos do setor, como: a Expocachaça, que foi realizada de 4 a 7 de julho, em Belo Horizonte, e o Festival Mundial da Cachaça, que acontece neste final de semana (12 a 14/7), em Salinas.
Nesta edição do festival, as cachaçarias associadas a APACS irão expor e comercializar seus produtos. No stand do Sebrae Minas, haverá degustação e venda de produtos da agroindústria mineira, como cafés, doces, queijos e mel, além do artesanato do projeto Origem Minas. Os visitantes também poderão interagir em uma experiência em 3D que mostra como a tecnologia se conecta aos negócios.
A previsão é que o Festival Mundial da Cachaça, promovido pela APACS com o apoio do Sebrae Minas, receba mais de 30 mil visitantes nesta edição.
Vocação
Em 2023, o Brasil contabilizou 1.217 cachaçarias registradas, um aumento de cerca de 8% em relação a 2022, de acordo com o Anuário da Cachaça 2024, divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Minas Gerais consolidou-se como o estado com o maior número de cachaçarias, somando 504 estabelecimentos, o que representa 41% do total nacional. É a primeira vez que um estado supera a marca de 500 cachaçarias registradas.
Minas Gerais não só lidera em quantidade de estabelecimentos e registros, mas também em diversidade de marcas, com uma média de 8,6 marcas por estabelecimento, totalizando 4.341 marcas.
Ainda segundo o Anuário da Cachaça, em relação aos municípios com o maior número de cachaçarias registradas no país, Salinas lidera o ranking com 24 estabelecimentos, quase 5% das cachaçarias no estado. Além disso, a cidade é a segunda no Brasil com a maior quantidade de registros da bebida, 202 ao todo, atrás apenas de Belo Horizonte com 336 produtos registrados.
Inauguração
Além das cachaçarias, a cidade de Salinas concentra mais de 4 mil empresas, sendo 96,5% pequenos negócios. Para incentivar a formalização e a abertura de novas negócios e facilitar o acesso às informações para a melhoria da gestão dos empreendimentos no município e na região, o Sebrae Minas inaugurou, nesta sexta-feira (12/7), a nova Agência de Atendimento, localizada na rua Vereador Eurico Sarmento, 171, no bairro Alvorada.
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