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Café da fazenda Três Meninas é produzido sem a utilização de insumos químicos
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Crédito: Henrique Ulhoa

Jequitibá rosa, fedegoso, guapuruvu, cedrinho, ingá, crotalária, nabo-forrageiro e feijão guandu. Na fazenda Três Meninas, em Monte Carmelo, no coração do Cerrado Mineiro, o cafezal divide o solo com espécies arbóreas e plantas de cobertura, em perfeita harmonia. Lá, há seis anos, são aplicadas práticas conservativas e sustentáveis, mostrando ser plenamente possível compatibilizar lucratividade, proteção da natureza, condições adequadas de trabalho e moradia digna para os trabalhadores.

“Aqui a natureza é nossa sócia”, reforça Marcelo Urtado, agrônomo, produtor rural e proprietário da fazenda de 54 hectares, localizada na cabeceira do rio Bagagem, divisa dos municípios de Monte Carmelo e Patrocínio, na região do Alto Paranaíba. “As plantas de cobertura têm como tarefa principal contribuir para o aumento da biodiversidade e da fertilidade do terreno. O resultado é uma cafeicultura conservativa, climaticamente inteligente, equilibrada e resiliente”, explica.

Adquirida em outubro de 2016, a propriedade, gerida de maneira compartilhada com a esposa Paula Curiacos, transitou do modelo de produção convencional – ou seja, praticamente extrativista – para uma cafeicultura orgânica, sem a utilização de insumos químicos. Para inserir as linhas de árvores, foram suprimidos cerca de 9% dos pés de café, que reduziram a lavoura a 40 hectares. Nas divisas laterais da fazenda também foram plantados hibisco, cedrinho e casuarina, além de árvores nativas do Cerrado.

Sempre em busca de um café diferenciado, combinado a uma produtividade elevada, o processo de manejo integrado, que atrai inimigos naturais (insetos e fungos) contra pragas e doenças da lavoura, já permitiu reduzir em 47% os custos com adubação. De acordo com o agrônomo, antes da aplicação destas técnicas, a produção não ultrapassava 30 sacas por hectare; atualmente, já são 54. “Uma simples ação no solo impacta praticamente todos os setores da cafeicultura”, explica Urtado, que, entre outras vantagens, já não precisa consumir tanta água na irrigação. “Hoje, nenhuma gota é desperdiçada na propriedade”.

Equilíbrio ambiental e selo orgânico

No último dia 7 de julho, a fazenda Três Meninas foi certificada pelo IBD (Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural) para comercializar seu café como orgânico no Brasil. No próximo ano, a expectativa é que a certificação internacional seja aprovada no Japão, Estados Unidos, Canadá, Suécia e em outros países da Europa. “O selo de orgânico não foi propriamente um objetivo, mas uma consequência do nosso trabalho”, acrescenta Urtado. Ele conta, entretanto, que com o equilíbrio conquistado e o fim do uso de defensivos, a opção por buscar a certificação se deu de forma natural. No país, o selo gera um ágio de R$ 350,00 por saca; já nos mercados europeu e norte-americano, o valor do café quase dobra.

Com o objetivo de tornar a propriedade ainda mais biodiversa, o casal de empreendedores rurais está realizando um estudo para adicionar abelhas nativas à cultura do café, para polinizá-lo. A ideia é instalar as colmeias nas ruas arborizadas a partir do período chuvoso, quando as plantas de cobertura já estiverem floridas. “Vamos colocar a fazenda à prova. As abelhas são grandes indicadores ambientais de equilíbrio e, se conseguirem conviver e procriar naquele espaço, é sinal de que estamos no caminho certo”.

Crédito: Henrique Ulhoa

Lucro admirável

Para além do retorno financeiro, a fazenda Três Meninas tem como propósitos auxiliar na preservação do meio ambiente e disseminar informação e conhecimento. A ideia é mobilizar mais produtores para essa “nova agricultura”. “Cooperamos fortemente para o desenvolvimento de uma cafeicultura pioneira, inovadora e produtiva. A intenção é deixar um legado positivo e perene”, destaca a zootecnista e coproprietária Paula Curiacos. A fazenda também mantém parcerias com institutos de pesquisas e centros acadêmicos, como a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), para levantamentos de dados, realização de estudos técnicos e compartilhamento de experiências entre estudantes, pesquisadores e produtores.

Há mais de 20 anos, o Sebrae Minas atua no território da Região do Cerrado Mineiro, estimulando o acesso ao mercado e capacitando os produtores nas áreas técnicas e gerenciais. A iniciativa, realizada em parceria com a Federação dos Cafeicultores dos Cafeicultores da Região do Cerrado Mineiro, pretende integrar, desenvolver pessoas, influenciando a transformação e a evolução da cultura do café na região. Entre os resultados já obtidos está o aumento da oferta do café com Origem Controlada, como o da fazenda Três Meninas, referência em qualidade e sustentabilidade.

Crédito: Henrique Ulhoa

A propriedade é mais um exemplo de que a região está se tornando cada vez mais inovadora e sustentável no mundo, sendo considerada uma área de maior certificação agrícola, mais mecanizada e com maior produtividade. Uma sinergia entre produção e natureza, de maneira equilibrada, gerando lucro admirável

Marcos Alves, gerente do Sebrae Minas da Regional Noroeste e Alto Paranaíba

Crédito: Henrique Ulhoa

O consultor do Educampo, plataforma do Sebrae que disponibiliza assistência técnica e gerencial aos produtores rurais, por meio da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (Monteccer), Luiz Gustavo Rabelo, destaca que o modelo implementado na fazenda Três Meninas é visto com curiosidade por muitos e já está se tornando referência para outros agricultores da região.

Ainda segundo ele, muitos produtores estão colocando em prática algumas alternativas do manejo conservativo. “Para a safra 22/23, acredito que conseguiremos implementar as culturas intercalares, adotar produtos biológicos associados aos químicos e, também, aplicar microrganismo, como o crisopídeo – conhecido popularmente como bicho-lixeiro, eficaz no controle de diferentes pragas –, em muitas fazendas onde presto consultoria”. Atualmente, ele atende um grupo de 16 produtores, em 25 propriedades.

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