A pandemia acelerou uma série de movimentos que já estavam em curso no mundo, sejam relacionados aos modelos de trabalho, à digitalização ou a novos negócios. No mercado da moda e da decoração não foi diferente, com o crescimento do e-commerce e dos brechós. Em Minas, o comércio de produtos usados registrou um aumento de 32% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, segundo pesquisa do Sebrae. A maior atenção ao controle financeiro e à sustentabilidade ambiental são considerados alguns dos fatores que impulsionaram o segmento.
No mercado desde 2017, Laura Alves Lima, proprietária do Brechó da Lalau, tem acompanhado a expansão do setor com bons olhos. Para ela, o negócio tem um viés sustentável e uma “pegada vintage”, além de “humanizar o comércio e não ser apenas algo lucrativo, mas que traga memórias.”
No acervo do Brechó da Lalau há roupas, sapatos e acessórios. E apesar dos cincos anos de mercado, a empreendedora, ainda informal, relata as dificuldades de quem sabe muito de moda e pouco de gestão. “Sou boa na criação e produção, mas tenho muita dificuldade na área de gestão e finanças. Não entendo da parte administrativa, por isso busquei ajuda para me capacitar”, explica a empresária.
Buscar parcerias é uma das estratégias para quem pretende crescer nesse mercado. Em conversa com Laura Lima, o Microempreendedor Individual (MEI) Jouberth Garcia Cupertino, do Meuseu Brechó, sugeriu buscarem locais na capital para um futuro espaço compartilhado. Há quatro anos no mercado, ele trabalha com roupas, mas com foco em camisetas que atendam a todos os públicos.
Formado em Publicidade e Direção Criativa em Moda, Jouberth conta que ainda é preciso reforçar que brechó não é sinônimo de roupa velha, mas sim de uma ressignificação da peça. “Acredito muito no trabalho da moda consciente e na possibilidade de levá-la para ocupar espaços na cidade. Sou da histórica Sabará, mas as oportunidades de negócio ainda ocorrem mais na capital. Atendemos públicos diversos, acreditando na possibilidade de levar uma moda cada vez mais plural e diversa para quem quiser vesti-la”, destaca.
Mercado de brechó vai além de roupas usadas
Engana-se quem pensa que o modelo de negócio só atende às pessoas que desejam vender roupa ou calçados. Contrariando a maioria, Vanessa Siqueira comprova que há espaço para outras possibilidades. Ela e a irmã pretendem abrir, até o fim do ano, um brechó on-line com peças de casa, decoração, e utensílios de cozinha. “É um sonho antigo e, agora que aposentei, vi como uma oportunidade. Lembra daquele objeto que você tem em casa e não sabe o que fazer com ele? Ele é o meu foco”.
Moradora da região do bairro Bomfim, conhecida pela quantidade de lojas de móveis usados, Vanessa sabe a importância de se oferecer um produto de qualidade. “É preciso garimpar. Há muitos anos, um rapaz tinha um isqueiro antigo e disse que não tinha nenhum lugar que o comprasse. Eu falei para ele ‘um dia eu vou ter esse local!’ É agora o momento”.
O impacto do consumo e a Economia Circular
O especialista em design para sustentabilidade André Carvalhal é escritor, CEO de uma agência de publicidade, podcaster da National Geographic e autor das obras “Moda com Propósito” e “Viva o Fim”. Ele avalia que o brechó é uma solução importante para a moda no atual momento, em que o entendimento do que é essencial para a nossa vida está em discussão. Mais ainda, considera que este modelo de negócio é mais acessível e agrega exclusividade, por oferecer peças únicas e qualidade, já que a maioria dos itens foi usada e continua boa para outra pessoa.
“As pessoas prezam mais por peças bem-feitas, de materiais duráveis, e menos pela quantidade. É importante pensar sobre as consequências do consumismo para o mundo. A roupa do brechó é a mais sustável que existe, porque ela já está pronta. Precisamos fazer valer os recursos e o trabalho que foi empregado na produção daquela peça”, destaca Carvalhal.
O acesso ao mercado é o maior desafio, mas também a maior oportunidade dos brechós. “A internet tem sido uma ferramenta excelente, mas é preciso ocupar lugares que antes não eram comuns para brechós, como shopping, avenida comercial, enfim, lugares com públicos com poder aquisitivo diverso”, reforça.
Para o meio ambiente, o mercado de segunda mão é um braço importante da economia circular, que apresenta uma preocupação com a sustentabilidade. Dados da pesquisa Global Footprint Network (GFN) indicam que seriam necessários 1,7 planetas como a Terra para suprir a demanda por recursos naturais. Por isso, quanto mais a vida útil dos produtos for estendida, melhor para o meio ambiente.
“A economia circular é isso: estimular que as coisas não tenham fim e possam viver novos ciclos com outras pessoas. Isso vale para tudo, não só para roupas”, justifica André Carvalhal.
Programa Viver de Brechó
O Sebrae Minas lançou, na última semana, o “Viver de Brechó”, programa de capacitação para empreendedores formalizados ou que pretendem regularizar o negócio no mercado de usados. A iniciativa visa atender brechós de Belo Horizonte e da Região Metropolitana para incentivar a economia circular, a moda consciente e a sustentabilidade.
As atividades seguem o formato híbrido até o fim deste ano, com prioridade para ações on-line para viabilizar a participação de empreendedores das cidades da Região Metropolitana da capital mineira. Serão cinco módulos: comportamento empreendedor, gestão financeira, mercado e marketing, design, fotografia e estilo e, por fim, formalização. Há a possibilidade de novas capacitações, de acordo com a necessidade das turmas.
Os interessados devem acessar este formulário on-line para mais informações.
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