A Inteligência Artificial é um assunto que desperta curiosidade em todos os segmentos de mercado, incluindo no audiovisual. As discussões são relacionadas, principalmente, às oportunidades e aos desafios que a IA traz para o presente e o futuro da indústria criativa. O assunto traz à tona debates importantes e foi amplamente difundido, principalmente com a greve de roteiristas e atores de Hollywood em 2023, que reivindicaram que as produtoras deveriam informar se os materiais tinham sido gerados por IA ou continham partes.
O tema foi discutido no último dia (14/11) da 9ª edição da MAX – Minas Gerais Audiovisual, uma das principais iniciativas do setor no Brasil, organizado pelo Sebrae Minas. A consultora em tecnologia, mídia e propriedade intelectual da Lemos Consultoria e Artis Cultural, Raquel Lemos, apresentou a palestra “Criatividade Codificada: Inteligência Artificial na Produção de Conteúdo”.
Com o auditório lotado, ela falou sobre a intersecção entre tecnologia e criatividade humana, como a IA está revolucionando a criação de conteúdo, mudanças no cenário legislativo, qual o limite da autoria, aplicações práticas de ferramentas inovadoras, com destaque para os desafios legais e éticos envolvidos, entre outros.
Em conversa com a Agência Sebrae de Notícias (ASN), Raquel Lemos detalhou a temática.
ASN: Como você enxerga o papel da Inteligência Artificial na criação de conteúdo audiovisual hoje? Quais áreas dentro da produção estão mais suscetíveis a serem transformadas pela IA?
R.L.: Estamos atravessando um lugar de familiarização e as produtoras precisam entender como elas podem fazer uso dessas ferramentas. Na minha percepção, as áreas mais suscetíveis de transformação no processo criativo são roteiro e pós-produção. O roteiro pode ser diretamente afetado por esse percurso – desde o processo de promptar um texto, de um copywriter, um roteirista de um longa-metragem ou de uma série, uma sala de criação. Já a pós-produção não se refere somente aos efeitos especiais, mas sim, a otimização de tempo e recurso no processo da produção.
ASN: A criatividade humana tem sido a base da produção audiovisual, mas a IA está cada vez mais sendo usada para gerar ideias e até roteiros. Como você vê essa coexistência entre criatividade humana e inteligência artificial? A IA pode verdadeiramente ser criativa?
R.L.: Sou sempre otimista da utilização da IA de forma híbrido e não da ferramenta como um atalho ao processo de criação. Eu genuinamente acredito no pulso criativo. Ele nos acompanha historicamente, desde as cavernas com as pinturas e a necessidade do registro. Isso é da natureza humana, é do nosso processo de construção humano. O uso de uma ferramenta é para incrementar, aprimorar, agregar ritmo narrativo, criar estratégias de improviso que a pessoa, necessariamente, não esteja apta como roteirista. Acredito nessa composição entre o uso da ferramenta para agregar valor à narrativa e não para aniquilar um processo de criação.
ASN: Quais são os principais desafios e limites éticos que você vê para o uso de IA na criação de conteúdo original?
R.L.: No atual contexto, é a não regulação, pois ela deixa um espaço que pode ser ocupado de maneira irresponsável com os usos não autorizados, como por exemplo, o uso de uma imagem não autorizada por uma ação publicitária, que aquele talento não tenha optado por anunciar aquela marca, de um roteiro para promptar uma canção, da criação de um produto que não tenha sido autorizado. A grande questão ética nesse contexto esbarra no não consentimento. Outro ponto é a mineração dos dados, que exige que essas ferramentas tracem um processo transparente com os criadores para a alimentação dessa base de dados.
ASN: A regulação tem sido discutida no Brasil?
R.L.: Há muitos cursos, muita gente pensando nos desafios técnicos, jurídicos e éticos que a tecnologia nos coloca agora. Também existe um projeto de lei que está tramitando, que seria um marco regulatório. E isso é desafiador quando você tenta concentrar todas as soluções dentro de uma legislação, principalmente quando já existe a legislação de direito autoral, que protege o criador.
ASN: Como a IA pode auxiliar na otimização de processos criativos, como edição de vídeo ou escolha de trilhas sonoras?
R.L.: Já existem muitas ferramentas no Brasil e fora do país para otimização de processos. O que precisamos é a familiarização das produtoras, o acesso ao conhecimento dessas ferramentas, como otimizar os custos e como acelerar processos que podem ser automatizados, como os que são repetitivos e tarefas de cargas não criativas. Tudo isso pode otimizar o orçamento de uma produção. Há pesquisas que apresentam reduções de custos em determinados momentos da pós-produção de 30% a 40% no orçamento. Isso é impactante até para um tomador de decisão. Se por um lado há o receio de que isso possa trazer escassez de oportunidade de trabalho, essa economia de recursos pode ser alocada em novas produções e novas oportunidades.
ASN: Quais conselhos você daria para profissionais do audiovisual que desejam abraçar a IA em suas produções?
R.L.: Que não sejamos refratários ao novo, que não tenhamos receio de testar. E que o uso aconteça de maneira responsável e crítica. Quando a gente perde a análise crítica como usuário, seja como produtora, criador ou player, perde a massa crítica sobre uso da ferramenta. É importante não desmerecer o que a IA pode trazer em otimização de processos e pós-produção, mas é importante duvidar das variáveis.
Sobre a MAX
Desde 2016, a MAX é considerada o maior evento de Minas Gerais e um dos eventos mais relevantes do Brasil com foco no mercado audiovisual. Seus pontos fortes são mediar os encontros entre produtores e exibidores, além de debates sobre o futuro do setor. É considerado o maior salão de negócios mineiro, inteiramente dedicado à promoção de agentes econômicos da indústria audiovisual.
A realização do evento pelo Sebrae Minas tem o objetivo de fomentar a indústria de produção de conteúdo para mídia e entretenimento, ampliar a geração de negócios do audiovisual e aumentar a competitividade dos empreendimentos, por meio de qualificação técnica. A curadoria da MAX é feita pela BRAVI – Brasil Audiovisual Independente, associação que reúne 670 empresas produtoras do país.
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