A ética no ambiente empresarial vai muito além do cumprimento de normas e regulamentos. Ela é um dos pilares para a construção de um ambiente de negócios saudável, sustentável e competitivo. No cenário atual, onde a transparência e a responsabilidade corporativa são cada vez mais exigidas, as empresas precisam reforçar seus compromissos com a integridade.
Com esse propósito, o Sebrae Minas realizou o 1° Circuito da Integridade, nos dias 2 e 3 de abril. O presidente do Conselho Deliberativo da instituição, Marcelo de Souza e Silva, abriu o evento reforçando a importância da adoção de boas práticas na entidade. “A integridade corporativa vai além do cumprimento de normas. Quando bem implementada, ela melhora processos, fortalece a conformidade e, consequentemente, aumenta a eficiência operacional. Isso permite que os colaboradores compreendam melhor seus papéis e sejam mais produtivos em suas atividades”, pontua.

Renato Cardoso Macedo, gerente da Unidade de Integridade Corporativa do Sebrae Minas, destacou o papel fundamental do Programa de Integridade Corporativa dentro da empresa: “Disseminamos a cultura de integridade em toda a instituição. Fazemos isso por meio de um programa estruturado de aculturamento e engajamento, capacitando todos os nossos colaboradores e garantindo que eles tenham plena ciência dos pilares fundamentais desse programa”.

Um dos destaques do Circuito da Integridade foi a participação do filósofo Luiz Felipe Pondé, que abordou os desafios éticos em tempos de crise. Para ele, a ética no ambiente corporativo não difere da ética em outras esferas da sociedade, mas apresenta desafios próprios, especialmente devido à busca por resultados e ao ambiente competitivo. Um ambiente de trabalho saudável deve prezar pelo respeito nas relações hierárquicas e pela aplicação equitativa das regras.
A ASN conversou com exclusividade com Luiz Felipe Pondé. Confira:
ASN: O que é ética no ambiente corporativo?
Pondé: A ética no ambiente corporativo não é, a priori, muito diferente do que a ética em qualquer lugar, porque o ambiente corporativo é um grupo social. No ambiente corporativo há um desafio maior, porque as empresas buscam lucro e, às vezes, para chegar a esses resultados, pode-se flexibilizar alguns princípios.
Mas eu diria que, um elemento importante, é o da ética no nível dos afetos, que significa um ambiente que não seja agressivo, insalubre e não tenha falta de respeito dentro da relação hierárquica. Um outro elemento seria que só é ético aquilo que vale para todos. Quando você trabalha numa empresa e percebe que as regras valem para todos, você sente muito melhor.
ASN: Quais são os principais dilemas éticos enfrentados por profissionais e empresas atualmente?
Pondé: A gente vive num tempo que, apesar de falar muito em ética, é bastante tenso. Os profissionais, em geral, sofrem a pressão de um mercado de trabalho e um mercado capitalista cada vez mais agressivo. Muita gente pode falar que está ficando melhor, mais consciente, mas isso não é verdade. Do ponto de vista do dia a dia, a pressão, a competição, a exigência para entregar eficácia e objetividade é cada vez maior e isso, com certeza, acaba pressionando o comportamento das pessoas para que elas não respeitem regras que gerem mal-estar, regras que valem só para alguns e não para todos.
Com relação às empresas em geral, não é muito diferente do que é para os profissionais. A empresa, além disso, tem um desafio hoje em dia que é o problema da saúde mental dentro das organizações. E a saúde mental é algo que normalmente exige cuidados éticos por parte de quem faz a gestão da empresa.
ASN: A ética pode ser ensinada dentro das empresas?
Pondé: O ambiente corporativo é um grupo social, que tem por objetivo entregar resultados e atingir lucro para que ela continue funcionando. A discussão de que a ética pode ser ensinada é muito antiga, eu diria que tem uns 2.500 anos e ninguém tem uma resposta definitiva para isso. Sem dúvida nenhuma, em alguma medida, ela pode ser ensinada, porque já se produziu muitos manuais, normas e diretivas de comportamento. O próprio Aristóteles dizia que o objetivo da ética era produzir uma pessoa em que as virtudes fossem uma segunda natureza. Então, em alguma medida, você pode ensinar.
Agora, tem uma dimensão da ética, como a gente tá transitando por assunto de valores, que depende diretamente da formação da pessoa. A ética é uma disciplina da prática, como se fala em filosofia, nunca teórica, e essa prática está dividida no ambiente em que você está e no ambiente de onde você vem. Então, há uma interação entre os dois.
ASN: As redes sociais tornam as discussões sobre ética mais complexas dentro das empresas?
Pondé: As redes sociais têm, como toda invenção técnica, uma dimensão positiva e negativa. Uma coisa que impressiona é, apesar de ser recente, como elas têm impactado em todos os níveis da sociedade. E nesse sentido, elas são um desafio sim, do ponto de vista ético, pois torna complexo o pensamento, as práticas, a tentativa de resolução, porque as redes sociais são uma espécie de círculo, cuja circunferência está em toda parte e o centro está em parte alguma. Então, você não tem, exatamente, como controlá-las. Elas funcionam como uma espécie de epidemia, que vai contaminando de forma invisível todos os níveis da sociedade.
Então, eu diria que, na verdade, as redes sociais são, hoje, um dos principais desafios, inclusive nas empresas. O uso de redes sociais privadas pode impactar sim o desempenho dentro da empresa e uma marca está aberta, o tempo inteiro, ao impacto que as redes sociais podem ter sobre ela. Então, eu diria que as redes sociais são um dos maiores desafios éticos em sentido social.
ASN: Quais princípios devem guiar líderes e profissionais na tomada de decisões difíceis?
Pondé: Aqueles que são líderes têm uma situação que é, normalmente, solitária, justamente pelo grau de responsabilidade que eles têm e que não podem dividir com ninguém. Então, eu diria, primeiro, ele tem que tomar decisões que sejam eficientes e que somem a capacidade da empresa entregar o resultado que ela tem que entregar. Ao mesmo tempo, ele tem uma tensão que é o fato de que a empresa é composta por seres humanos e esses seres humanos têm dimensão racional. Quando a empresa ou o líder são incoerentes no seu processo de decisão, as pessoas sofrem.
Uma outra coisa é a dimensão do afeto da ética, que a gente já sabe que existe desde o século XIX, antes se falar em empatia. Então, elas podem se sentir mal, se são maltratadas, se é um ambiente onde vê muito desrespeito. E, ao mesmo tempo, hoje tem também a possibilidade, a qualquer momento, de qualquer decisão que for um pouco para um lado não muito ético, vazar e gerar todo tipo de problema para empresa.
Então, eu diria que cuidado com as redes sociais, cuidado para não entregar decisões que enterrem a empresa e cuidado para não fazer com que as pessoas que trabalham nela se sintam mal.
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