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Empreendedora de Uberaba coloca receita aprendida no quintal da família em prateleiras de todo o Brasil

Trajetória de Mariana Tavares à frente da Minaly Alimentos é marcada por memórias, resiliência e coragem de aprender a empreender
Por Vanessa Braga
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O cheiro doce que hoje marca a produção da Minaly Alimentos, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, carrega mais do que ingredientes cuidadosamente escolhidos. Ele guarda memória, trabalho e uma história construída ao longo de décadas. Essa trajetória começou em 1994, quando o empreendedor José Amâncio Tavares deu início ao que, inicialmente, se tornaria a tradicional Doces Mineirão.

Depois de trabalhar como vendedor, viajando pela região do Triângulo Mineiro em uma kombi para comprar doces de terceiros para revenda, ele decidiu colocar em prática uma receita aprendida ainda na infância. “Meu pai aprendeu a fazer a goiabada cascão com a avó dele. Na época, as goiabas amadureciam todas de uma vez no quintal, e o doce era a melhor forma de aproveitar essa fartura. A fruta fresca estragava rápido, mas transformada em goiabada podia ser consumida ao longo de todo o ano”, conta Mariana Tavares, filha do empresário.

O caminho, no entanto, esteve longe de ser linear. José Amâncio tinha espírito empreendedor, mas pouco conhecimento em gestão. Ao longo da trajetória, a empresa enfrentou duas falências. “Ele acreditava muito no produto e gostava do que fazia, mas faltava educação financeira para administrar o caixa e precificar. Hoje, entendemos que isso provocou as falências”, lembra Mariana.

A busca por reinventar o negócio fez Vera Lúcia Tavares, esposa de José Amâncio, atuar diretamente na empresa. Mesmo sem qualquer conhecimento técnico, ela passou a gerir a parte administrativa e financeira, tornando-se peça fundamental para manter o negócio em funcionamento.

Sucessão inesperada

Apesar de crescer acompanhando o trabalho dos pais, Mariana nunca foi preparada para assumir a empresa. “Não fiz Engenharia de Alimentos para trabalhar com o meu pai. Não foi proposital. Aliás, depois de tudo o que ele viveu, insistia para que eu escolhesse um caminho mais seguro, e queria, a todo custo, que eu fizesse Direito para prestar concurso público, por conta de estabilidade. Era o pensamento de quem sofreu na pele empreendendo”, conta.

Formada em Engenharia de Alimentos, em 2010, ela trabalhava em uma fábrica de refrigerantes, atuando com controle de qualidade e questões sanitárias. Nessa época, ela se preparava para prestar um processo seletivo para engenheira trainee de uma grande indústria. Foi nesse intervalo que, a pedido do pai, passou a prestar, temporariamente, serviços técnicos à Doces Mineirão, enquanto aguardava o concurso.

No entanto, em maio daquele mesmo ano, José Amâncio sofreu um infarto fulminante e faleceu. “Foi tudo muito rápido. Quando eu estava começando a ajudar mais na empresa, aconteceu”, relembra. Mariana abandonou o processo seletivo, deixou o emprego na indústria de refrigerantes e permaneceu no negócio da família. “A empresa estava em dificuldade de novo, e sem a força do meu pai. Eu tinha uma formação que ajudava, claro, mas não sabia nada sobre gestão. A faculdade é muito técnica e teórica. Ela não te ensina a administrar um negócio e comandar uma equipe”, conta.

Reorganizar para crescer

Diante da necessidade de sobreviver, veio o aprendizado acelerado. “Costumo brincar que aprendi a nadar no fogo”, lembra. Em 2011, Mariana buscou apoio do Sebrae Minas, fez consultoria financeira e participou do Empretec, considerado um divisor de águas em sua trajetória. “Nesta capacitação, entendi que precisava aprender gestão de verdade”, define.

A empreendedora também investiu em outras formações voltadas para finanças, gestão de pessoas, vendas e processos produtivos. Ao mesmo tempo, a mãe dela voltou a estudar. Vera Lúcia ingressou no curso de Ciências Contábeis ao perceber erros acumulados ao longo dos anos. “Entendemos que precisava de conhecimento para não repetir o passado”, explica.

Por quase uma década, a prioridade foi apenas uma: sobreviver. A Doces Mineirão manteve o foco na goiabada cascão, produto já reconhecido no mercado, enquanto atravessava um longo processo de reorganização. A virada estratégica ocorreu entre 2019 e 2020, quando Mariana decidiu ampliar o portfólio e reposicionar a empresa.

Inovar respeitando o legado

O novo mix de produtos deu origem à Minaly Alimentos. “Queríamos ampliar a linha para um produto mais gourmet e alcançar outro público. A goiabada Mineirão já era muito forte, mas o nome limitava essa estratégia”, explica. A nova marca passou a concentrar os produtos desenvolvidos por Mariana, enquanto a linha Mineirão manteve os clássicos: goiabada, bananada e doce de queijo.

Hoje, a Minaly Alimentos conta com 20 funcionários e vende para todo o Brasil, atendendo supermercados, empórios e lojas especializadas em produtos artesanais e naturais. O desafio é crescer sem perder a essência. “A receita original da goiabada, por exemplo, preservamos até hoje. Às vezes, o maquinário pede adaptação, mas nosso cuidado é não descaracterizar o produto”, frisa.

Entre tradição e inovação, Mariana construiu uma liderança moldada pela prática, memória e aprendizado contínuo. “Não planejei assumir a empresa, mas entendi que isso também fazia parte da minha história. Tenho muito orgulho do construímos, um negócio que começou antes de mim e que, hoje, tem muito da minha mão. Empreender não foi um plano, mas surgiu da coragem de continuar”, reflete.

Assessoria de Imprensa Sebrae Minas – Regional Triângulo

Vanessa Braga
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