A criação de políticas públicas e o planejamento para a atração de empresas de base tecnológica nos territórios foi tema do painel ‘Cidades inteligentes: negócios e oportunidades para todos’, realizado nesta quinta-feira (23/11), na sede do Sebrae Minas, em Belo Horizonte, durante o último dia da programação do Delta Fórum 2023. Representantes das cidades de Florianópolis (SC), Itajubá (MG) e Recife (PE) apresentaram as estratégias desenvolvidas pelos municípios para criar ambientes favoráveis à expansão de negócios inovadores e da “indústria silenciosa e limpa”, que é o mercado de Tecnologia da Informação (TI).
Florianópolis: a “Ilha do Silício”
Ao conquistar a primeira posição no ranking geral do Connected Smart Cities 2023, um levantamento que avalia o esforço das cidades em se tornarem mais inteligentes, o município de Florianópolis se consolidou como referência quando o assunto é propor soluções inovadoras e que facilitem o dia a dia de seus habitantes e turistas. As áreas avaliadas para o ranking incluem mobilidade, urbanismo, meio ambiente, tecnologia e inovação, economia, educação, saúde, segurança, empreendedorismo, governança e energia.
Alguns indicadores do estudo também revelam que os investimentos aplicados neste setor promoveram o crescimento exponencial da economia. Em dez anos (2010-2020), o número de empresas de base tecnológica saltou de 489 para 3,9 mil, um aumento de 697,5%. O faturamento do setor também registrou elevação expressiva de 568,1%, passando de R$ 958 milhões para R$ 6,4 bilhões. E, consequentemente, o PIB per capta aumentou de R$ 26,7 mil para R$ 43,7 mil, uma evolução de 63,7%.
A coordenadora estadual do Projeto Ecossistema Local de Inovação do Sebrae Santa Catarina, Luciana Sayuri Oda, responsável pela apresentação do case, destacou que o investimento no ecossistema de inovação também contribui para o desenvolvimento do turismo em Florianópolis. “O destino de temporada, durante o verão, em virtude das praias, passou a ser mais demandado pelo turismo de negócios, com a realização de grandes eventos de inovação, como o Startup Summit que, neste ano, reuniu quase dez mil pessoas em três dias”, conta. Além de hospedagem e alimentação, essas pessoas também precisam de transporte, buscam opções de lazer, entre outras necessidades.
Destaque, também, para boas práticas de políticas públicas planejadas pela administração local, por meio da Lei Municipal de Inovação de Florianópolis, que estabeleceu o Conselho e o Fundo Municipal de Inovação, além do Programa de Incentivo Fiscal à Inovação, o que justificou o crescimento do setor. Ações adicionais como a criação da Lei Municipal de Desburocratização e da Escola do Futuro – duas escolas-modelo da rede municipal de ensino que oferecem, além das disciplinas tradicionais, aulas de programação, robótica e empreendedorismo -, também potencializam o desenvolvimento de territórios inovadores, ao ofertarem mão de obra qualificada.
Porto Digital: inovação e preservação no centro histórico do Recife
Pessoas, negócios e território. Esses são os eixos que orientam as ações desenvolvidas no Porto Digital, considerado o maior parque tecnológico urbano e aberto do Brasil. Localizado em Recife (PE), o parque tecnológico foi criado, no ano 2000, fruto de uma parceria entre empresários, membros da academia e representantes do setor público que se mobilizaram para criar uma política destinada ao setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) de forma a reunir empresas do segmento.
Hoje, em uma área total de 171 hectares (o que corresponde ao tamanho de 171 campos de futebol), o Porto Digital concentra 414 empresas de tecnologia e economia criativa, como indústria de games, design e fotografia, e cerca de 17 mil colaboradores que circulam diariamente pelo local, que ainda conta com hotéis, restaurante, loja de conveniência entre outros serviços. Neste ano, o projeto foi apontado pela Wired, publicação referência na área de inovação, como o hub de tecnologia “que deu certo”.
Aos empreendimentos instalados no Parque são concedidos benefícios fiscais, como a redução da cobrança do Imposto sobre Serviço (ISS) de 5% para 2%. E, como contrapartida, as empresas promovem a restauração dos casarões antigos, que passam a ser suas sedes, contribuindo para a preservação do centro histórico do Recife. Essa medida rendeu, em 2017, o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), na categoria “Excelência em Gestão Compartilhada do Patrimônio Cultural”.
Responsável pelo Projeto Cultural de Reabilitação de Áreas Centrais, desenvolvido pelo Porto Digital em parceria com o BNDES, a arquiteta Júlia Clarinda Machado também contou, durante a apresentação do case, que uma das motivações para criar o Parque foi a necessidade de reter o capital humano que se formava na capital pernambucana. Como estratégia para garantir a mão de obra qualificada, foi pensado o programa Embarque Digital, com apoio da Prefeitura, faculdades e instituições de ensino profissionalizante. Foram distribuídas 2,5 mil bolsas para cursos técnicos em nível superior para cursos presenciais de graduação em tecnologia, e no mês de dezembro deste ano, será formada a primeira turma.
O Ecossistema de Inovação de Itajubá
Reconhecido nacionalmente pela alta concentração de instituições de ensino superior – são 13 unidades –, o município de Itajubá, no Sul de Minas Gerais, tem cerca de 20% dos seus 100 mil habitantes representados por estudantes universitários, em cursos voltados para as áreas de engenharia, inovação e tecnologia. A formação deste ecossistema teve início em 1913, quando se instalou na cidade a primeira Escola de Engenharia Elétrica do Brasil que, hoje, se tornou a Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
A cidade se transformou em um polo de inovação tecnológica, especialmente, no campo da hardtech, que envolve tecnologias complexas e avançadas. O conglomerado acadêmico se tornou um atrativo importante para a instalação de empresas de base tecnológica, que conseguem contratar capital intelectual com facilidade. Na apresentação do case pelo gestor da Associação Itajubense de Inovação e Empreendedorismo (INOVAI), Maurício de Pinho Bitencourt, foram destacados alguns números da cidade, que conta com 120 startups, cinco centros de pesquisa e três incubadoras de empresas. Segundo Bitencourt, é um “parque industrial sem chaminés”, que conta com mão de obra qualificada e que colabora para promover a geração de renda para o município, com apoio do governo, iniciativa privada e universidades.
Em setembro deste ano, Itajubá conquistou o Prêmio Nacional de Inovação (PNI), na categoria Ecossistema de Inovação de médio porte. Foi a primeira vez que uma cidade mineira chegou à final do concurso Mobilização Empresarial pela Inovação, iniciativa coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Sebrae Minas.
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